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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Quando o prazer se torna vício


Todos os seres humanos buscam o prazer, em suas diversas formas. O prazer é um motivador em nossas vidas e fundamental para nossa evolução. É a partir dele que buscamos coisas como comida, água e sexo, necessários tanto para nossa sobrevivência quanto para passar nosso material genético para as próximas gerações.

Muitos de nossos rituais mais importantes, como oração, música, dança e meditação, produzem uma espécie de prazer transcendental, que se tornou profundamente arraigado na prática cultural humana.

Mas as atividades que proporcionam prazer têm uma tênue divisão que separa o vício da virtude; e especialistas dizem que não é difícil pender para o lado do vício.

Como qualquer força poderosa que existe entre os humanos, o prazer também é regulamentado pelas sociedades. Em todas as culturas ao redor do mundo, encontramos ideias e regras bem definidas sobre isso, como “o prazer deve ser buscado com moderação”, “o prazer é transitório” ou “o prazer deve ser conseguido naturalmente”.

Para incontáveis crenças, a negação do prazer gera crescimento espiritual. Nossos sistemas jurídicos, religiões e sistemas educacionais estão todos preocupados com o controle do prazer – basta observar o recente furor pelo combate às drogas. Nós criamos regras e costumes em torno do sexo, drogas, alimentos, álcool e até mesmo dos jogos de azar. As prisões estão repletas de pessoas que tiveram a possibilidade de desfrutar de prazeres proibidos, ou que encorajaram outros a fazer isso.

O fato é que a maioria das experiências transcendentais que conseguimos em nossa vida – sejam vícios ilícitos ou atividades socialmente aceitas como a meditação, compras ou até mesmo a caridade – ativam um circuito distinto de prazer em nossos cérebros.

Alimentos calóricos, orgasmo, jogos de azar, oração, dança e até jogos online: tudo isso evoca sinais neurais que convergem para um pequeno grupo de áreas cerebrais interconectadas chamadas de circuito do sistema de recompensa cerebral, ou o circuito do prazer. São nesses pequenos aglomerados de neurônios que os prazeres humanos são emitidos.

Há, no entanto, um problema: o circuito de prazer, em que um neurotransmissor chamado dopamina desempenha um papel crucial, pode ser “cooptado”. As drogas que implicam um risco de vício, como a cocaína, a nicotina, a heroína ou o álcool, são viciantes porque atingem os nossos circuitos do prazer. As drogas que funcionam de forma diferente, como antidepressivos ou LSD, podem ser psicoativas, mas não são, a rigor, viciantes.

E não são apenas as drogas que desempenham esse papel viciante nos cérebros. A evolução tem feito com que nos viciemos por uma grande variedade de substâncias e experiências, do crack a maconha, meditação a masturbação, fast food a carne gordurosa.

Quando o cérebro humano é observado, podemos ver partes importantes do circuito do prazer sendo ativadas por estímulos evolutivamente antigos ou modernos. Quando os centros de prazer são estimulados, os seres humanos podem ignorar quase todo o resto ao seu redor.

Se estamos realmente determinados a alcançar o controle do prazer, tanto para as sociedades quando para indivíduos isolados, a luta deve ser associada com os neurônios que proporcionam as sensações prazerosas. O vício – o lado negro do prazer – está associado a mudanças duradouras nas funções elétricas, morfológicas e bioquímicas dos neurônios e das conexões sinápticas.

Há fortes indícios que são essas ligações e movimentações cerebrais do circuito do prazer que desencadeiam muitos dos aspectos aterrorizantes do vício, incluindo a tolerância (necessidade de doses sucessivamente maiores para obter satisfação), o desejo, os sintomas de abstinência (febre, tremores, depressão, insônia, ansiedade) e as recaídas.

A nossa atual compreensão da função neural, juntamente com as tecnologias que nos permitem analisar e manipular o cérebro com uma precisão sem precedentes, estão nos dando novas perspectivas sobre a biologia do nosso cérebro.

Analisando a base molecular das transformações duradouras nos circuitos de prazer do cérebro, será possível, no futuro, o desenvolvimento de medicamentos e outras terapias que ajudem as pessoas a se libertarem de muitos tipos de vícios, tanto de substâncias químicas quanto de experiências.

Fonte: The Telegraph

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