sábado, 7 de janeiro de 2012
A moda dos bonecos "reborns", feitos para parecerem bebês de verdade
Recentemente, na National Portrait Gallery de Londres, avistei uma mulher em pé segurando um pequeno bebê. Por si só, esse fato não era incomum havia provavelmente três ou quatro bebês ali, e ela o embalava normalmente, como se não desejasse acordá-lo. De alguma forma, porém, não parecia certo na minha visão periférica, parecia que ele não estava se movendo o suficiente. De qualquer forma, enquanto eu disparava olhares à maneira britânica, sem chegar perto, a mulher se aproximou, e o bebê não era real. Ufa. Não doente, apenas inanimado.
Pertencia à fotógrafa Rebecca Martinez, que o tinha usado, e muitos outros como aquele, em seu projeto preTenders. E enquanto eu fui até lá para observar e ri, fiquei ressentida por ter sido enganada. Aquilo tinha provocado algum pânico em mim, algo similar à aflição impotente que você sente quando ouve sobre uma criança morta em um ato de violência. Mais tarde, Rebecca conversou comigo sobre os quatro anos em que tem fotografado pessoas com esses bonecos – colecionadores, criadores, amigos:
– Se seguro essa boneca de qualquer jeito diferente do que você faria com um bebê de verdade, as pessoas enlouquecem. Não posso simplesmente segurá-la casualmente, em um só braço, por exemplo, porque as pessoas dirão “isso não está certo, você não pode fazer isso”. Elas ficam alucinadas.
Os bonecos Reborns ocupam um lugar que considero único na cultura: para os artistas que os produzem, são obras de arte, e a maestria é inegável. Para alguns colecionadores, são bonecos, e, para outros, são algo totalmente diferente – a memória de uma criança ou o substituto dela. No entanto, é possível não cair em nenhuma dessas categorias, e ainda assim reagir a eles de alguma maneira profunda.
Esse é um fenômeno relativamente novo, que surgiu ao longo dos últimos seis ou sete anos. Os bonecos chegam em kits, em moldes de vinil. Depois, recebem camadas de tinta a óleo. O cabelo pode ser pintado ou feito com fios verdadeiros. Os Reborns são pesados, para serem mais reais (só não são quentes). É possível comprar versões brutas em sites como o eBay por 100 libras esterlinas (R$ 284), mas as versões mais caras podem chegar a milhares de libras (uma foi vendida recentemente na Grã-Bretanha por cerca de 11 mil libras esterlinas, ou cerca de R$ 31 mil).
As artistas americanas Cher Simnitt, Diana Mosquera e Gia Heath descrevem as pessoas que compram seus bonecos como “envolvidas emocionalmente”. O que alguns dos clientes querem mesmo é ter mais filhos, mas, por razões práticas ou físicas, não podem tê-los. Outros querem uma boneca semelhante a seu filho que está deixando de ser um bebê. Uma família pode pedir uma boneca de seu recém-nascido para dar a um avô – e, quando o avô morre, ela volta para a família como uma herança, diz Cher.
Uma mulher que não podia ter filhos procurou Gia e disse: “Aqui está uma foto minha, aqui uma foto do meu marido. Você acha que pode fazer um bebê que se pareceria conosco?”. Há também os bebês “retrato” e “memorial”, réplicas de um filho morto, em sua homenagem. Gia lembra ter ajudado uma mulher que abortou:
– Ela carregou aquela boneca por três semanas. E me disse: “Precisava lamentar e segurar algo material para passar por essa fase, e agora eu posso deixá-la ir”.
Fonte: Zero Hora
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