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sexta-feira, 24 de maio de 2013

O homem que vive sem comida


Rob Rhinehart vive sem comida. Como? Se alimentando de algo chamado Soylent, que ele descreve como “uma forma eficiente de alimentar a humanidade, pela primeira vez na história”.

Rhinehart percebeu que a comida não funciona. Pelo menos, não muito bem. Sua função é fornecer energia e nutrição que o corpo necessita, mas é cara e leva muito tempo para se preparar. Muitas pessoas no mundo não podem se dar ao luxo de comer corretamente, enquanto outros comem tão mal que tornam-se obesos, o que prejudica a saúde.

Ou seja, de uma forma ou de outra, comer é um problema para milhões, talvez bilhões de seres humanos.

Mas Rhinehart promete uma solução: Soylent. Investidores já prometeram mais de US$ 100.000 (cerca de R$ 200 mil) para a fabricação de sua invenção. Além disso, uma campanha de crowdfunding já lhe trouxe outros US$ 100.000 em pouquíssimo tempo. Mais de 1.000 apoiadores pagaram US$ 65 (cerca de R$ 130) para receber fornecimento de Soylent para uma semana.

Rhinehart planeja usar esses novos fundos para fabricar seu produto em quantidades industriais – e, pelo jeito que a coisa anda, ele deve fazer sucesso.


Soylent

A substância se destina a fornecer todos os nutrientes e calorias que um corpo humano necessita – em outras palavras, pretende substituir alimentos. Para consumi-la, basta misturar o pó com água e beber.

Rhinehart, 24 anos, diz que está vivendo principalmente de Soylent desde fevereiro. “É muito doce. O gosto é quase como uma massa de bolo”, conta.

O inventor estudou ciência da computação e engenharia elétrica em Georgia Tech (EUA). Ele diz que Soylent foi inspirado por quanto tempo e dinheiro ele gastava em comida, que sequer fazia bem para sua saúde. “Este é um problema antigo para os solteiros”, conta.

Seu primeiro trabalho foi a pesquisa. Em sites, livros e publicações acadêmicas de acesso livre, ele aprendeu sobre biologia, fisiologia, nutrição, biodisponibilidade, mecanismos metabólicos e sobre todas as diferentes substâncias que compõem um ser humano.
Ele começou a ver seu corpo como uma máquina, que exigia uma lista finita de necessidades para funcionar de forma eficiente. Assim, escreveu todas e se dedicou a descobrir onde poderia comprá-las, o mais barato possível.

acadêmicas adquiri a maioria dos 32 componentes de Soylent em empresas de fornecimento de produtos químicos, sintetizados em formas que o corpo pode absorver.

Alguns dos produtos de Soylent são derivados de alimentos reais (azeite fornece a gordura, por exemplo), mas não muitos. “O cálcio vem de calcário”, explica.

Além de resolver um problema para solteiros desinteressados na culinária, Rhinehart prevê que sua invenção alimente pessoas passando fome em países em desenvolvimento.


A solução para o problema da fome?

Suplementos de nutrição não são nenhuma novidade. Mas Soylent de fato reflete algo sobre a cultura atual: a falta de tempo para cozinhar e limpar. Na visão de Rhinehart, o ato de comer é uma tarefa que a tecnologia pode tornar mais eficiente, ou mesmo eliminar totalmente.

Além disso, também reflete os temores sobre recursos escassos: a preocupação de que podemos não ter comida suficiente no futuro, ou infra-estrutura para distribuí-la e alimentar a crescente população da Terra de forma confiável.

O sonho de substituição de alimentos existe há centenas de anos, e é popular entre escritores de ficção científica e comunidades utópicas. Embora a ideia possa apelar a um pequeno grupo de pessoas que acham que comer é uma tarefa exaustiva, para melhor ou para pior, a maioria das pessoas realmente gosta de comer, e acha comida agradável.

Também não está claro se uma única substância pode substituir todos os alimentos, conforme explica Maudene Nelson, nutricionista do Instituto de Nutrição Humana da Universidade de Columbia (EUA). “Nutricionalmente, eu não acho que seja possível fazer um alimento que ofereça tudo o que o corpo precisa”, diz. “Esta é uma forma obsessiva de fazer escolhas alimentares. Não é excesso obsessivo, mas é microgestão obsessiva”.


Segurança alimentar x adoção global

Rhinehart faz exames de sangue regulares desde que passou a comer apenas Soylent para ver como a dieta o afetava a nível molecular.
O experimento mostrou algumas desvantagens. Em seu blog, ele descreveu ter dores nas articulações depois de três meses, que sumiram quando ele acrescentou enxofre à mistura do produto. Ele diz que ainda janta comida tradicional com os amigos cerca de duas vezes por semana. Fora isso, ele bebe Soylent. “Tem sido intensamente libertador. Eu nunca mais terei que me preocupar com comida”, conta.

A tentativa de Rhineharte não é a primeira do tipo. Outros já estão procurando reestruturar a forma como comemos. A NASA, por exemplo, está financiando uma companhia que quer sintetizar o alimento com uma impressora 3D. Preocupações sobre produção de carne suficiente para satisfazer a demanda mundial por proteína levaram ao aumento do interesse em comer insetos, entre outros debates.

Rhinehart afirma que não está sugerindo que todos comam Soylent. Ele não espera que a maioria das pessoas goste de consumir tanto quanto ele consome. Mas ele diz que o “viés emocional” para alimentos não faz sentido.

“A maioria das coisas mais úteis no mundo está muito longe da natureza neste momento”, diz ele. “Nós ainda usamos uma versão muito antiga de comida”. Por isso, ele quis dizer o tipo que vem de plantas e animais. Você concorda?

A próxima etapa do projeto Soylent é testá-lo em outras pessoas. Rhinehart está trabalhando atualmente com seis voluntários, sendo que apenas alguns deles concordam que a saciedade é alcançada. As mulheres, em particular, estão tendo dificuldades, segundo o engenheiro. “Elas têm necessidades nutricionais diferentes, terei que adaptar o produto”, diz.

Fonte: BusinessWeek, Telegraph


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