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quarta-feira, 1 de abril de 2015

O que acontece quando você volta do espaço?


Não é difícil que fiquemos curiosos a respeito da vida fora da Terra. Como é morar em um lugar sem gravidade? O que acontece com os nossos sentidos na Estação Espacial Internacional? E para ir ao banheiro, como fazem os astronautas?

Porém, não é tão comum que pensemos a respeito do que acontece com o nosso corpo depois de voltarmos do espaço.

Em um artigo no portal de perguntas e respostas Quora, o engenheiro e ex-astronauta Garrett Reisman conta como foi essa experiência de voltar à Terra depois de uma temporada vivendo no grande vácuo sem gravidade que é o espaço. Ele participou de uma expedição à ISS em março de 2008, à bordo do ônibus espacial Endeavour, retornando três meses depois. Em maio de 2010, passou mais 12 dias no espaço, desta vez chegando à Estação Espacial Internacional com o ônibus espacial Atlantis.

Confira o relato de Reisman na íntegra

“A comida é muito melhor aqui na Terra. E tomar banho e ir ao banheiro também é muito mais fácil aqui. Mas você passa por um processo de adaptação estranho quando volta para a Terra.

A primeira coisa que se nota é que tudo parece realmente pesado. Depois de 95 dias na Estação Espacial Internacional, voltei para a Terra no ônibus espacial Discovery. Tirei o capacete e parecia que eu estava segurando a âncora do [mega porta-aviões] USS Nimitz na minha mão. ‘Ah, que maravilha’, pensei, ‘como é que eu vou escovar os dentes? A escova vai ser muito pesada!’

A próxima coisa que você nota é que o sistema vestibular está todo bagunçado. Mesmo para sentar era necessário muita concentração. Após cerca de 15 minutos eu conseguia de ficar em pé, mas eu teria caído de joelhos se não houvesse um monte de coisas para se segurar no deck intermediário do Discovery.

Veja bem, o cérebro é extremamente adaptável. Depois de apenas alguns dias no espaço ele descobre que seu ouvido interno está produzindo nada além sinais de inúteis e assim o cérebro abaixa bastante os ganhos desses sinais em seu filtro de Kalman e aumenta os ganhos em seus sensores visuais, os olhos.

Tudo fica bem, até que você volta para a Terra. Agora você precisa de seu sensor da orelha interna novamente, mas o cérebro ainda está filtrando-o. Aos poucos, o cérebro calibra novamente, mas isso leva um tempo.

Para mim, o processo foi muito rápido. Não sei porquê, mas informalmente posso dizer-lhe que pessoas baixinhas e atarracadas se readaptam mais rapidamente do que as pessoas altas e esguias. Esta foi a segunda vez na minha vida que ser baixinho veio a calhar. (A primeira vez foi durante concursos de ‘passar por debaixo da cordinha’ em Bar Mitzvahs de New Jersey no início dos anos 80).

Depois de cerca de uma hora, eu era capaz de caminhar ao redor do ônibus espacial na pista do Centro Espacial Kennedy e consegui, ainda, ir a um bar local com os meus colegas de tripulação e comer metade de um cheeseburger e meio copo de cerveja.

No meu segundo voo, o STS-132, que teve apenas cerca de 2 semanas de duração, fomos para o mesmo bar e eu consumi um cheeseburger inteiro e um copo cheio de cerveja. Então, quando as pessoas me perguntam qual é a diferença entre um voo espacial de longa duração e um voo espacial e de curta duração, eu tenho uma resposta quantificável: ‘meio cheeseburger e meia cerveja!'”.

Atualmente

Depois de seus 107 dias, 3 horas e 15 minutos no espaço, a companhia SpaceX – empresa de transporte espacial dos Estados Unidos sediada em Hawthorne, na Califórnia – contratou Reisman, atualmente com 47 anos de idade, como engenheiro sênior para trabalhar com segurança de astronautas e precisão de missões.

Fonte: Gizmodo

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